Ultimamente venho lendo o livro The Best of 2600 [A Hacker odyssey] e encontrei um texto na categoria “A filosofia Hacker (The Hacker philosophy)” que achei interessante.
O livro é formado (como o nome já diz) pelos melhores textos já publicados na famosa revista 2600. Caso não saiba do que estou falando, a 2600 é uma revista americana que trata de assuntos Hacker/Phreaker, novas tecnologias em geral e notícias sobre o “Underground” desde Março de 1984. Foi uma das pioneiras nesse ramo e é possível ver sua importância ao perceber como os textos da revistam foram evoluindo junto com o surgimento dos primeiros computadores pessoais, novos sistemas e novas redes de computadores, etc.
Mas chega de falar do livro porque não estamos neste post para isso (pretendo escrever mais sobre quando finaliza-lo, pois assuntos interessantes não faltam).
Enfim, é um pedaço da história da cultura Hacker. Como não encontrei o texto original em lugar algum (e traduzi direto do livro), recomendo que comprem (ou baixem) o livro se quiserem vê-lo.
E como o texto não é assinado por ninguém (ao menos não no livro), deixo que todos os créditos sejam levados pela revista 2600.
E créditos da tradução para minha pessoa, né? (ao menos que encontrem muitos erros, aí considerem que meu revisor fodeu tudo).
Aí vai:
Em todas as gerações de seres humanos, há certos tipos de indivíduos que emergem. Existem (e sempre existirão) líderes, seguidores etc. E existem aquelas pessoas que gostam de brincar com as coisas e descobrir como elas funcionam. Antes da tecnologia surgir, não havia muita coisa para essas pessoas brincarem. E, certamente, não havia outra maneira para eles reunirem seus recursos exceto por meio de comunicação frente a frente. Com os telefones, obviamente todos os aspectos da vida humana mudaram. Ali estava um brinquedo que qualquer um poderia brincar e conseguir, virtualmente, resultados ilimitados. Mas é claro que a maioria das pessoas não via dessa forma - telefones eram telefones e nada mais. Não é de supor que você se divirta com eles. Mesmo assim, alguns aventureiros insistiram em se divertir com seus telefones. Eles fizeram todo tipo de coisa que não deviam, como descobrir como os telefones funcionam e se conectam. Pela primeira vez, esses entusiastas da tecnologia representavam uma "ameaça" a tecnologia por buscar e explorar ao invés de simplesmente usa-la sem fazer nenhuma pergunta. Hoje, há varias pessoas que ainda se divertem com seus telefones e criam todo tipo de avanço tecnológico por si mesmas. Mas o real foco no momento está na nova "ameaça": pessoas que gostam de fazer experimentos e se divertir com computadores. Não o tipo de diversão que se supõe com Pacman ou Mr. Do, mas diversão não autorizada com computadores de outras pessoas. Por que elas fazem isso? O que essas pessoas tem a ganhar por invadir sistemas de computador e ver coisas que não importam ou que não podem ser usadas por elas? Na grande maioria dos casos, hackers de computador não ganham nada (material ou financeiro) pelas suas explorações. E, adicionando isso ao alto risco de ser pego, fica muito difícil para o cidadão comum entender o que motiva essas pessoas. Muitos entusiastas de computadores são ressentidos pelos hackers e os consideram imaturos e problemáticos. Alguns BBS proíbem certos tópicos de serem discutidos e, quando proíbem, hacking é quase sempre um deles. Há alguma justificação por trás disso, desde que a imagem de todos os usuários de computadores pode ser afetada pelo que os hackers fazem. Há também os rapazes da lei que insistem em falar para todos que invadir um computador pelo telefone é como invadir fisicamente uma casa ou escritório. Felizmente, essa lógica parece ser compartilhada por poucas pessoas. Apesar de todas ameaças e criticismo, os hackers não estão mudando sua forma de agir. E a opinião pública, particularmente entre os jovens, aparenta estar a favor, principalmente por causa da cobertura da mídia. Existe até um programa de TV semanal sobre hackers chamado de "The whiz Kids". Toda semana, esse grupo de incríveis crianças tem uma nova aventura. Os scripts são um pouco idiotas, mas interessantes de qualquer forma. Em um episódio, as crianças (apenas uma delas é um verdadeiro hacker) descobrem uma má pessoa que anda roubando cheques de segurança social. (Eles descobrem isso por acaso após logarem na sua conta bancária.) Para ensina-lo uma lição, eles invadem outro computador e emitem sua certidão de óbito. Em cada programa, essas crianças invadem ao menos um novo computador. Mas isso alguma vez as causa problemas? Claro que não. Primeiramente, elas são apenas crianças. E segundo, elas estão entrando em outros computadores por uma boa razão, mesmo que não tenham autorização. Agora que tipo de mensagem esse programa passa? Aparentemente, está tudo bem em invadir a privacidade de outras pessoas se suas intenções são "boas". Um hacker de verdade invade computadores pelo desafio. Ele não quer salvar o mundo ou destrui-lo. Ele não quer ter lucro com o que faz. Logo, não é justo o categorizar como criminoso assim como é errado dizer que ele é algum tipo de salvador. Entusiastas da tecnologia operam com a mesma motivação que um bom montanhista. Sem se importar com o que pode acontecer com ele, um hacker de computador sempre estará interessado em brincar com computadores. É a sua natureza. E qualquer lei criada para conter hackers não irá funcionar por causa desses fatos. Haverá sempre pessoas que querem fazer experimento com as coisas e esse desejo não pode ser sufocado. Hackers irão parar por causa do escândalo do "414"? Ou por causa das batidas policiais da Telemail? Não. Julgando pela proliferação dos BBS onde hacking é discutido, o movimento está crescendo mais do que antes. A maneira realística que os donos de grandes sistemas computacionais tem de olhar para os hackers é como uma "necessária checagem de segurança". Exatamente. Necessária porque se não forem os hackers que invadirem quem será? Vamos supor que hackers nunca tentaram invadir os computadores do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center. Pelos sistemas estarem praticamente abertos, alguém iria. E talvez eles tenham uma razão para entrar no sistema - fazer várias coisas ruins. Mas agora, por causa do que hackers fizeram, o sistema do Sloan-Kettering está mais seguro. Pode-se quase dizer que uma pessoa com habilidades hacker tem a obrigação de tentar e entrar em quantos diferentes sistemas ele conseguir. Vamos ser nacionalistas por um momento. Se você tem um número para acessar um computador super secreto do governo em Ft. George G. Meade, MD, é provável que albaneses também tenham. Agora, seria melhor para eles que alguém invadisse o sistema e procurasse por todas as coisas importantes, ou que você invadisse e fosse descoberto, forçando o sistema a se tornar mais protegido? E, caso você invada, não mereceria uma nota de agradecimento por alerta-los? Mas, mantenha em mente que um hacker de computador não tem a obrigação de se entregar ou alertar os operadores de um sistema sobre suas falhas. É trabalho do Sysops notar quando seus computadores são invadidos e se eles não detectarem você, então é uma segunda falha de segurança que eles cometem. Essa é uma visão pragmática, mesmo que pareça chocante. Para finalizar, devemos salientar para os próprios hackers que não há motivo para preocupação caso seus métodos ou segredos forem, eventualmente, descobertos. Isso é apenas o começo. Nosso mundo está se tornando em um playground tecnológico.